AULA 7

6. Conceito e dimensionamento do tronco em uma residência

Vamos pegar como primeiro exemplo uma residência térrea abastecida por um único reservatório superior. Esse reservatório vai atender um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço.

 

6.1. Análise do projeto

O reservatório vai atender 3 ambientes de uma residência: um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço.

Portanto, a residência tem 3 ramais. Cada ramal possui uma válvula de controle e manutenção e após a passagem por cada um desses registros de gaveta é feita a distribuição de água no ambiente.

O trecho de tubulação que atende os ramais é chamado de TRONCO, ou seja, a partir do tronco é que se subdividem os ramais para os ambientes em um sistema que se chama ramificado.

 

 

Perspectiva Isométrica do Banheiro, Cozinha e Área de Serviço

 

 

6.2. Determinação do ponto mais desfavorável e separação dos trechos da tubulação.

O ponto mais desfavorável da instalação pode ser o chuveiro (CH) pois possui a menor pressão estática (Pe) ou o tanque (TQ), porque apesar de possuir boa pressão estática, está mais distante do reservatório (quanto maior o comprimento, maior a perda de carga, lembram?)

Independente disso, precisaremos dimensionar todos os tubos e para isso, vamos determinar os trechos a serem calculados. Ao sair do RESERVATÓRIO e passar pelo Registro de Gaveta, encontramos a primeira derivação (Tê) do nosso tronco. Vamos chamar esse ponto de A. Continuando em direção do banheiro, chegamos no ramal do banheiro e na segunda derivação que vamos chamar de B.

Voltando para a laje, no nosso tronco, indo em direção a cozinha e a área de serviço, vamos encontrar uma segunda derivação que chamaremos de C. A partir dessa segunda derivação do tronco é que vão surgir os ramais da cozinha (esquerda) e da área de serviço (do lado direito)

 

6.3. Pré-dimensionamento dos Ramais

6.3.1. Ramal do Banheiro (A - B)

Aparelho
Peso Relativo
Chuveiro
0,4
Bacia com caixa de descarga
0,3
Lavatório
0,3
TOTAL
1,0

Aplicando a Somatória de Pesos no ábaco ou aplicando a fórmula, temos

Q= 0,3 l/s

DN= 20 mm

 

6.3.2. Ramal da Cozinha (C - PI)

Aparelho
Peso Relativo
Pia
0,7
Filtro
0,1
TOTAL
0,8

Aplicando a Somatória de Pesos no ábaco ou aplicando a fórmula, temos

Q= 0,27 l/s

DN= 20 mm

 

6.3.3. Ramal da Área de Serviço (C - MLR)

Aparelho
Peso Relativo
Máquina de Lavar Roupa
1,0
Tanque
0,7
TOTAL
1,7

Aplicando a Somatória de Pesos no ábaco ou aplicando a fórmula, temos

Q= 0,39 l/s

DN= 20 mm

 

6.4. Pré-dimensionamento do tronco

6.4.1. Tronco (Reservatório - A)

Esse é o principal trecho do tronco. Esse trecho atende todos os três ramais da edificação:

Ambiente/ramal
Somatória de Pesos (P)
Vazão Q (l/s)
Banheiro
1,0
0,30
Cozinha
0,8
0,27
Área de Serviço
1,7
0,39
TOTAL
3,5
0,96

Para pré-dimensionar o tronco, vamos utilizar a soma das vazões, pois a estatística de uso já foi utilizada no dimensionamento dos ramais.

Logo é só aplicar o valor da vazão Q=0,96 l/s no ábaco 1.71 e extrair o valor do diâmetro nominal:

DN= 25 mm

 

6.4.2. Tronco (A - C)

Esse trecho do tronco já exclui o ramal do banheiro, logo temos somente a cozinha e a área de serviço:

Ambiente/ramal
Somatória de Pesos (P)
Vazão Q (l/s)
Cozinha
0,8
0,27
Área de Serviço
1,7
0,39
TOTAL
2,5
0,66

Aplicando o mesmo conceito do trecho principal do tronco, temos a somatória de vazão Q=0,66 l/s. Aplicando o valor da vazão Q no ábaco 1.71, temos:

DN= 25 mm

6.5. Cálculo da Pressão Dinâmica e da Perda de Carga nos pontos mais desfavoráveis

6.5.1. Ponto do Chuveiro (CH)

- Perda de Carga total (hf)

O tronco e os ramais já foram pré-dimensionados. Só falta pré-dimensionar o trecho B - CH do sub-ramal do chuveiro.

Aparelho
Peso Relativo
Chuveiro
0,4
TOTAL
0,4

Aplicando o valor no ábaco 1.71, temos:

Q= 0,19 l/s

DN= 20 mm (apesar de estar em um região de duplo diâmetro, adotamos o maior, pois como certeza vamos ter problema de pressão)

Como já temos todos os valores de vazão Q e os pré-dimensionamentos (DN), podemos calcular a perda de carga unitária (J) e a velocidade (v) através do ábaco 1.37.

Trecho
Q (l/s)
DN (mm)
J (m/m)
v (m/s)
reserv-A 0,96
25
0,17 1,90 
A - B 0,30
20
0,072  0,95 
B - CH 0,19
20
0,032  0,62

 

Pelo projeto, podemos achar os comprimentos reais (CR) e os comprimentos equivalentes (CE):

Trecho
CR (m)
CE (m)
reserv-A
0,40+0,60= 1,00

Para DN= 25 mm

Entrada de borda- 1,20

2 joelhos de 90 - 3,00

Registro de Gaveta - 0,30

TOTAL: 4,50 m

A - B
0,40+0,70+1,10= 2,20

Para DN= 20 mm

Tê passagem direta - 0,80

Joelho de 90 - 1,20

Registro de gaveta - 0,20

TOTAL: 2,20 m

B - CH
0,50+1,10 = 1,60

Para DN= 20 mm

Tê de saída lateral - 2,40

Registro de Globo Aberto - 11,40

2 joelhos de 90 - 2,40

TOTAL: 16,20 m

 

Assim já podemos montar a tabela de perda de carga.

Trecho
Q (l/s)
DN (mm)
v (m/s)
CR (m)
CE (m)
CT (m)
J (m/m)
hf (mca)
reserv-A 0,96
25
1,90  1,00 4,50 5,50 0,17 0,94
A - B 0,30
20
0,95  2,20 2,20 4,40 0,072  0,32
B - CH 0,19
20
 0,62 1,60 16,20 17,80 0,032 0,57
              TOTAL 1,83 mca

Conclusão: Do ponto de saída do reservatório até o ponto do chuveiro, temos uma perda de carga total de 1,83 mca.

- Cálculo da pressão dinâmica

Pd = Pe - hf

Pressão estática: é a diferença de altura entre a saída do reservatório e o ponto do chuveiro. Pe= 0,60 + 0.70

Pe = 1.30 m

Pd = 1.30 - 1.83

Pd = -0,53 mca

Como a pressão mínima de serviço é 0,50 mca, a pressão dinâmica no chuveiro não é suficiente.

A elevação do reservatório em mais de 1,00 m não é uma solução viável em um residência, a menos que o reservatório faça parte do partido arquitetônico ficando em destaque na volumetria da edificação.

Logo vamos analisar os problemas e as nossas opções de solução.

 

6.6. Análise dos resultados

Quando se trata de um projeto completo como esse, primeiro temos que analisar as perdas de carga ( hf ) por trecho:

Trecho
Q (l/s)
DN (mm)
v (m/s)
CR (m)
CE (m)
CT (m)
J (m/m)
hf (mca)
reserv-A 0,96
25
1,90  1,00 4,50 5,50 0,17 0,94
A - B 0,30
20
0,95  2,20 2,20 4,40 0,072  0,32
B - CH 0,19
20
 0,62 1,60 16,20 17,80 0,032 0,57
              TOTAL 1,83 mca

Reparem que a maior perda de carga ocorre no tronco, trecho entre a saída do reservatório e a primeira derivação A (reserv-A) com 0,94 mca.

A primeira conclusão é que um diâmetro nominal ( DN ) de 25 mm no tronco gera uma perda de carga muito grande, portanto vamos aumentar para o diâmetro nominal comercial seguinte, que é 32 mm e recalcular as perdas de carga no trecho.

Se há mudança no diâmetro do tronco para 32 mm, mantendo-se a mesma vazão ( Q ) de 0,96 l/s, altera-se a perda de carga unitária ( J ) e a velocidade no trecho ( v ) que deverá ser lida no ábaco 1.37:

Novo J = 0,062 m/m (contra o antigo J=0,17 m/m)

Nova v = 1,20 m/s (contra a antiga v=1,90 m/s)

Além disso, também vai haver mudança no comprimento equivalente do trecho, pois para um diâmetro de 32 mm, os comprimentos equivalentes serão maiores:

Entrada de borda- 1,80

2 joelhos de 90 - 4,00

Registro de Gaveta - 0,40

TOTAL do novo CE = 6,20 m (contra 4,50 m do tubo de 25 mm de diâmetro)

Em função dos novos valores, podemos refazer a tabela de perdas de carga:

Trecho
Q (l/s)
DN (mm)
v (m/s)
CR (m)
CE (m)
CT (m)
J (m/m)
hf (mca)
reserv-A 0,96
32
1,20  1,00 6,20 7,20 0,062 0,44
A - B 0,30
20
0,95  2,20 2,20 4,40 0,072  0,32
B - CH 0,19
20
 0,62 1,60 16,20 17,80 0,032 0,57
              TOTAL 1,33 mca

 

Conseguimos uma redução total de 0,50 mca (novo hf=1,33 mca contra o antigo hf=1,83 mca) somente aumentando o diâmetro do tronco para 32 mm.

No entanto a pressão dinâmica ainda não é suficiente:

Pd = Pe - hf

Pd = 1,30 - 1,33

Pd = -0,03 mca.

Vamos ter que refazer o cálculo para um tronco com diâmetro nominal de DN=40 mm

 

 

6.7. Recálculo para tronco como diâmetro nominal DN = 40 mm

Se há mudança no diâmetro do tronco para 40 mm, mantendo-se a mesma vazão ( Q ) de 0,96 l/s, altera-se a perda de carga unitária ( J ) e a velocidade no trecho ( v ) que deverá ser lida no ábaco 1.37:

Novo J = 0,019 m/m (contra o antigo J=0,062 m/m)

Nova v = 0,75 m/s (contra a antiga v=1,20 m/s)

Para um diâmetro de 40 mm, os comprimentos equivalentes serão maiores:

Entrada de borda- 2,30

2 joelhos de 90 - 6,40

Registro de Gaveta - 0,70

TOTAL do novo CE = 9,40 m (contra 6,20 m do tubo de 32 mm de diâmetro)

Em função dos novos valores, podemos refazer a tabela de perdas de carga:

Trecho
Q (l/s)
DN (mm)
v (m/s)
CR (m)
CE (m)
CT (m)
J (m/m)
hf (mca)
reserv-A 0,96
40
0,75  1,00 9,40 10,40 0,019 0,20
A - B 0,30
20
0,95  2,20 2,20 4,40 0,072  0,32
B - CH 0,19
20
 0,62 1,60 16,20 17,80 0,032 0,57
              TOTAL 1,09 mca

 

Conseguimos uma redução de mais 0,24 mca (novo hf=1,09 mca contra o antigo hf=1,33 mca) aumentando o diâmetro do tronco para 40 mm.

No entanto a pressão dinâmica ainda não chega a pressão mínima de serviço de 0,50 mca

Pd = Pe - hf

Pd = 1,30 - 1,09

Pd = 0,21 mca.

Exigindo o aumento da pressão estática em cerca de 30 cm ou então o aumento do diâmetro do ramal do banheiro para 25 mm que também exigiria o recálculo do trecho A - B